terça-feira, 19 de agosto de 2008

Identidade, Realidade, Photoshop

Quão profunda é a influência cultural do software de edição de imagem capaz de manipular fotografias como o Photoshop?

Um recente artigo no New York Times aborda a questão dando a conhecer histórias reais como a de uma mulher que pediu a um amigo que editasse fotografias das férias dos últimos doze anos para digitalmente apagar o seu ex-marido das recordações digitais. Outra história é a de uma senhora que, após a morte do seu pai, contratou um profissional para criar um retrato composto dos dois juntos. É a única foto que tem dela com o pai. É falsa, mas não faz mal.

A fotografia atravessa assim uma fase surreal: a sociedade redescobriu neste meio um veículo de realidades forjadas. Mas o terrível é que a fotografia confere a estas ilusões uma presença e uma autoridade indevidas. O legado puro da fotografia como meio de documentação não só está manchado, é abusivamente manipulado como garantia de verdade conferida a artefactos mentirosos.

A utilização destas técnicas de manipulação digital por parte da indústria da moda (atitude desmascarada pela campanha 'Beleza Real' da Dove) não chocou o mundo. O governo Iraniano foi apanhado recentemente por ter digitalmente manipulado imagens e vídeos do lançamento de misséis de teste. Mas a reacção foi apenas de gozo e descrédito.

Não deveriam estes exemplos ser levados mais a sério? São apenas alguns casos que, por incompetência ou acidente, foram detectados. O caro leitor pode estar a ser neste momento colocado numa foto a abraçar George W. Bush ou o Quim Barreiros.

Mais assustador é quando a surrealidade da premissa de Orwell de manipulação do passado comum é transportada para o espaço familiar e pessoal da auto-decepção. Estamos a falar do próprio indivíduo, ou de individuos em grupo, a alterarem conscientemente parte da sua história. Não para manipular o cliente, o cidadão, ou o eleitor, mas para se manipularem a si mesmos.

A fuga aos problemas da realidade é tão antiga como as drogas e o entretenimento. Mas que fraca endurance emocional é esta, em que queremos escrever falsas realidades invés de aceitar as coisas como são e - quando possível - trabalhar para as mudar?

Tal como a cirurgia estética esta é mais uma ferramenta de dissimulação na busca individual pelos ideais artificiais e impossíveis da sociedade moderna de perfeição. Uma moral corrosiva esta, que em prol do desejo de uma vida perfeita - passado e presente - tudo vê como passível de ser corrumpido e obliterado. Até a memória, que é senão o que nos define.

De lembrar o poema de Alexander Pope que retrata a angústia de Eloisa face aos desejos carnais que nutre pelo eunuco Abélard. Confrontada com a contradição, Eloise implora não por perdão mas por esquecimento:

How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd ...

Citando o desfecho do filme Vanilla Sky, em que a personagem principal também escolhe viver na ilusão para fugir aos dramas da realidade: Abre los Ojos.

Estão vivos, então vivam!

13 comentários:

Windumanoth disse...

Uma vez o meu pai quis que fizesse uma montagem em que ele está ao lado do El Comandante e do Chávez numa fotografia em que estão os dois abraçados...
XD

Anyway...

O teu post, tal como a campanha da Dove não me surpreende. Infelizmente é uma realidade corriqueira ao alcançe de qualquer um.

Reescreve-se o passado, memórias...
Qualquer dia faço uma montagem em que a minha família é a família Brady e transformo os meus dois cães na Lassie!

João Mateus disse...

então é daí que vem o titulo para o Eternal Sunshine of the spotless mind. Que filme.

Voltando ao texto, outro exemplo foi nos Jogos Olimpicos a China utilizar imagens previamente gravadas, e também ter gerado imagens no computador. Tens toda a razão no que dizes.
Antigamente quem ganhava a guerra é que escrevia a história, neste momento a história pode ser criada em qualquer computador.
Felizmente ainda existe a nossa memória.

Sophia disse...

Belo post!
Verdade, muito verdade!
Resta-nos a nossa memória e confiar nela.
O problema é quando ela nos atraiçoa, com o passar dos anos, ou quando algo nos afectou de tal forma que fazemos "delete" e recriamos memória. É bem provável que as pessoas de que falaste no post (os exemplos) acreditem mesmo ou, pelo menos, venham a acreditar que as fotografias que adulteraram representem memórias reais, pura e simplesmente porque representam o que essas pessoas queriam que tivesse acontecido e ocultam o que as feriu.
Bom post!

Calucifer disse...

Lá que digas que é errado o facto de um grupo querer manipular meio mundo para proveito próprio, tudo bem. Mas isso já existe desde que se criou a publicidade. Agora não venhas falar de manipulação de imagem como sinónimo de fraca endurance emocional e consequente recusa em aceitar coisas menos boas.

Faz todo o sentido que se usem os recursos disponíveis como meios de adaptação à nova situação em que o sujeito se encontra.Como é que pode ser interpretado como fuga ao problema? Quanto muito trata-se de um mecanismo de defesa. E até esse é considerado como um passo na adaptação. Se isso passa por não ter de olhar todos os dias para aquilo que nos magoa, qual é o problema? Tenho maior endurance emocional por continuar a ver em cada canto da casa o motivo da minha agonia? Isso para mim tem outro nome, masoquismo. E a comparação com o consumo de droga, por certo que pode servir de escape, mas dificilmente termina por aí.

A cirurgia estética é artificial sim, mas em prol da sanidade de muito boa gente. Porque não é só para satisfação do ego individual que é utilizada. Mas mesmo sendo, tenho direito a sentir-me bem comigo própria ou não? Porque de facto a aceitação de que tu falas não passa só por nós, mas também pelo feedback que recebemos dos outros. Como sabes no man is an island. Lá porque tu fizeste um boob job e eu não, não significa necessariamente que sejas mais inseguro e tenhas maior labilidade emocional que eu. É muito giro apontar o dedo e julgar sem considerar todas as condicionantes inerentes aquele ou a este sujeito.

Retomando o primeiro ponto, já foram identificadas certas zonas do cérebro responsáveis pela memória. Ou seriam neurónios? já não sei. Mas lembro-me de ter lido que testam muito medicamento que danifica certo tipo de memórias dolorosas, e inclusivé já tiveram algum sucesso. As pessoas em teste naquele caso foram vitimas de violação, e após uma catervada de semanas a tomar o tal medicamento, aparentemente tais memórias não passavam já de recordações longinquas e toleráveis. Quando se descobrir como fabricar e apagar memórias, aí sim é caso de alarme. Aí sim estás em risco de perder a tua identidade.


"What isn't remembered never happened. Memory is merely a record. You just need to re-write that record."- Serial Experiments Lain (um bom anime para o teu irmão :P)

Rendeiro disse...

Não sejas invejosa da minha boob job :P

Agora a sério, o paralelo entre o desejo da imagem perfeita e o desejo da vida perfeita foi só para reforçar o quão podres são esses valores artificais que a nossa sociedade actual tanto preza.

Isto reflecte-se muito bem em quase todos os episódios de Nip Tuck, e na realidade também: não é por mudar a imagem que as pessoas se passam a aceitar subitamente.

Se no caso da cirurgia estética há vários graus de sanidade no que leva as pessoas a fazê-la (hint hint Michael Jackson), já no que toca a tornar a manipulação das memórias algo aceitável, acho mal.

Uma coisa é uma pessoa procurar por todos os meios adaptar-se à realidade, outra bem diferente é moldar a sua identidade e a realidade que a rodeia, passado e presente, através de self-brainwash.

Por processos conscientes, através da razão, psicologia, aceito.

Por drogas, quando é o único remédio (passo o pleunasmo), se for a curto prazo, aceito.

Agora apagar da mente algo que faz parte de nós? Penso que mesmo no caso de pessoas com traumas o aconselhamento psiquiátrico é melhor via. But hey, I listen to Dr. Phil so what do I know?

Talvez por valorizar o método científico acima de saltos de fé, prefiro também a aceitação, a verdade, a ilusões reconfortantes. Acho que, excepções à parte, deve ser essa a posição por defeito do ser humano no mundo. Uma de verdade, nao de manipulação. Começando com verdade sobre si e para si. "Know thyself".

Isto leva-me a uma citação favorita:

"Reality is that which, when you stop believing it, doesn't go away."

Admiro a lucidez desta frase, vinda de um homem que experimentou a sua boa dose de drogas alucinogénicas, era crente e filósofo, e tinha a peculiar e honesta convicção de que vivia entre duas dimensões, na antiga Roma de Cristo em simultâneo com a América dos anos 70.

A auto-manipulação impura por si só, torna também menos inaceitável a manipulação por parte de interesses de lobbys. Da capacidade desses interesses fica também outra frase da mesma fonte:

"today we live in a society in which spurious realities are manufactured by the media, by governments, by big corporations, by religious groups, political groups...So I ask, in my writing, What is real? Because unceasingly we are bombarded with pseudo-realities manufactured by very sophisticated people using very sophisticated electronic mechanisms. I do not distrust their motives; I distrust their power. They have a lot of it. And it is an astonishing power: that of creating whole universes, universes of the mind. I ought to know. I do the same thing."

Calucifer disse...

Nem 8 nem 80. O Jackson e os Nip Tuck situam-se claramente nos 80.

Nunca concordei com a manipulação de memórias. Aliás, disse que quando isso for possível advém daí o risco de perderes a identidade. Por acaso quando li aquilo fiquei um bocado assustada. Por muito má que possa ser a experiência por que passas, ela faz parte de ti, e marca a tua forma de estar no mundo.

Preferes a verdade e a aceitação. Não podes ser tão linear. Não vivo num mundo a preto e branco. Não é imperativo que tenha de aprender a gostar das minhas limitações. Aceito-as. Ok, elas existem. Mas viver com elas ou tentar mudar para algo mais reconfortante vai da vontade de cada um de nós.
Efectivamente não é por aumentar duas mamas que me vou sentir a melhor do mundo. Mas pode ajudar. Posso gostar mais da minha imagem e sentir mais reciprocidade por parte dos meus pares, o que a curto ou longo prazo traz resultados.

moldar

Conjugar

de molde


v. tr.,
formar os moldes de;
fundir, vazando no molde;
acomodar ao molde;

fig.,
dar forma a;
adaptar;

v. refl.,
acomodar-se;
adaptar-se.

A vida é um constante processo de adaptação. Moldas-te vezes sem conta perante os diferentes obstáculos com que te deparas. Self-brainwash, chamas tu. Pois bem, não sei viver de outra forma. Porque de facto não estou sozinha neste mundo e por muito que não queira há expectativas inerentes à minha pessoa. E se for preciso um boob job para me sentir em paz, venha de lá o silicone.

Sophia disse...

A fuga não é uma adaptação e é um mecanismo de defesa que só não começa a ser patológico quando usado transitoriamente. A fuga é um improviso, mas, não é uma adaptação. Basta pensarmos, na percentagem de gazelas a fugir de uma chita que sobrevive e na percentagem que é capturada, basta considerarmos um camaleão, ele não foge, muda de cor consoante o ambiente e isso sim é uma adaptação.
Temos uma capacidade única, que nos distingue de todos os outros seres: inteligência, racionalidade. E têmo-la não para enfeitar, têmo-la para observar, analisar, memorizar, processar e responder, resolver questões.
No dia em que a fuga for uma adaptação e suplantar a capacidade racional de resolver problemas (mesmo que estes só possam ter solução internamente), então teremos recuado milhares de anos de evolução na nossa árvore filogenética.

Calucifer disse...

Permite-me esclarecer-te:

- mecanismos de defesa são todos os processos pelos quais nos adaptamos às exigências que nos são impostas pela sociedade em que vivemos.

Entrou-se neste post em defesa da posição de que a pessoa que alterou as fotografias o fez porque simplesmente não quer lidar com a situação, ponto.

Vais mais longe, dizendo que a capacidade de ela não conseguir lidar com a situação naquele momento, é sinónimo de burrice.

Pois bem, já que a inteligência não é só para enfeitar, estou certa que estás familiarizada com o termo negação. Não são gazelas a correr, mas também é uma fuga. Também é um mecanismo de defesa. E o curioso, é que é um meio de adaptação à angústiva vivida naquele momento!

- Claro que a utilização prolongada e inconsciente destes mecanismos pode ser prejudicial à pessoa, afastando o indivíduo da realidade e impedindo-o de resolver problemas.

Mas não é isso que está aqui em causa.

Era de facto simpático conseguirmos racionalizar todos os problemas com que nos deparamos. Melhor ainda, seria um mundo perfeito, livre de vícios, pecados, ou excesso de sentimentos, onde ninguém se enerva, levanta a voz, ou discute.
But we're only human! Sorry.

NOTA: se as gazelas não fugissem, a tua estatística seria bem mais sombria, don't you think?

Rendeiro disse...

Acho que as gazelas são um mau exemplo.

Uma gazela que corre, sabe que corre e porque corre. Uma pessoa em negação, não sabe (por definição) que está em negação. A gazela aceita a sua realidade e a sua opção é sair de sítio a alta velocidade. A gazela é que se está a adaptar à realidade, não a tentar adaptar a realidade a si. Podemos brincar com a semântica do verbo "fugir" quanto quiseres, a gazela não toma prozac.


Mas o giro é que vocês estão a dizer a mesma coisa.

"Claro que a utilização prolongada e inconsciente destes mecanismos pode ser prejudicial à pessoa, afastando o indivíduo da realidade e impedindo-o de resolver problemas.

Mas não é isso que está aqui em causa."

É sim. Porque alterações à memória, forçadas exteriormente, são permanentes.

É precisamente isto que se está a discutir. Porque fuga transitória ou temporária (em que se encaixa o estado de negação) não é permanente.

Sophia disse...

Não vou entrar em grandes discussões, só vou clarificar uns pontos que parece que foram mal interpretados na minha exposição, talvez porque não me tenha explicado bem.
Obrigada, mas, conheço bem a definição e o conceito de mecanismos de defesa e já percebi que tu também, pelo que deverás também saber que num processo de adaptação entram sequencialmente vários dos mecanismos de defesa, sendo que à fase de negação se seguem outros desses mecanismos, nomeadamente a racionalização, entre outros. A negação só por si, nem nenhum dos outros mecanismos per si, conduz a uma verdadeira adaptação às experiências vividas. Assim, se alguém ficar pelo mecanismo de negação, que é o que aqui se trata, não se irá verdadeiramente adaptar. Alguém que não consegue interligar todos os mecanismos de defesa inerentes à reolução de dado problema, terá dificuldades em alcançar uma adaptação bem sucedida.
Quanto ao dizeres que: «Vais mais longe, dizendo que a capacidade de ela não conseguir lidar com a situação naquele momento, é sinónimo de burrice.» Não disse naquele momento, é natural que alguém entre em negação, mas, num período inicial muito curto, ao qual se devem seguir os outros processos. Disse pura e simplesmente que somos dotados de inteligência e racionalidade e devemos tentar aplicá-las o melhor que pudermos, concretizá-las ao máximo. O que não quer dizer que o facto de não se concretizarem e valorizarem essas capacidades no seu máximo potencial seja sinónimo de burrice. Há uma grande distância entre não aplicarmos todo o nosso potencial e sermos burros. Não chamei burro a ninguém, porque não era isso que queria dizer, se fosse, teria utilizado o termo com as letras todas, pois, por regra, chamo as coisas pelos nomes. Agradeço, portanto, que não se coloquem sob a minha assinatura coisas que não afirmei.
Quanto à analogia da gazela, é lógico que se não fugirem, morrem mais. Porém, não basta fugir, é o que quero transmitir. Voltamos ao mesmo, tem de haver uma sequência de processos, fugir, por si só, não serve de adaptação real a ninguém.
E, sim, é disso que aqui se trata. Quando alguém altera, em fotografias, a realidade, está a fugir e não se está a adaptar verdadeiramente. Mais tarde ou mais cedo, esse País Das Maravilhas vai cair-lhe em cima e causar graves danos.
Ninguém disse que tínhamos de ser perfeitos, e que não devíamos sentir, porque estas coisas também nos caracterizam, a par da inteligência, como humanos, mas, não precisamos de escolher o caminho mais fácil e ser fracos. E há gente que consegue racionalizar quase tudo, acredita-me, e isso não quer dizer perfeição. Não temos de racionalizar tudo, mas também não temos de ser tótós, enfiar a cabeça na areia ou pintar quadros floridos e fingir que está tudo bem, só para não termos de nos esforçar e resolver as coisas.
E agora sim, podes dizer que chamei tótó a alguém, porque foi mesmo esse termo que apliquei!

PS: No hurted feelings!

Calucifer disse...

Ó Sophia, a ti, só te digo uma coisa: vai um café?
Achei o teu comentário positivamente divertido!

Mas voltando ao assunto,

"Assim, se alguém ficar pelo mecanismo de negação, que é o que aqui se trata, não se irá verdadeiramente adaptar."

Mas serei só eu a não ler em sitio algum deste post tal constatação? Muito sinceramente, não vi em parte nenhuma uma referência ao facto de a mulher ter manipulado fotografias com o objectivo de meter a cabeça na areia e não enfrentar o problema. Também não me recordo de ter lido que tal acção fosse resultar imperativamente na fabricação de uma memória não verdadeira.

"é natural que alguém entre em negação, mas, num período inicial muito curto"

O que te leva a crer que não se encontra nesse período inicial?
O que te faz pensar que o processo de manipulação das fotografias e, consequente reconhecimento do problema, não é por si só um processo transitório para alcançar a estabilidade emocional (supondo ser esse o objectivo a ser alcançado a longo prazo)?

Fotos com tanto significado perdem o sentido depois de eliminada uma parte? O ambiente que levou aquela foto, aquela expressão, naquele lugar, também se perde com a manipulação? Eu que tenho memória de passarinho não me esqueço desse tipo de coisas.
Se bastasse uma simples manipulação de fotografias para tornar uma fantasia (perigosamente) real, não haveria prozac que resistisse.


"Não temos de racionalizar tudo, mas também não temos de ser tótós, enfiar a cabeça na areia ou pintar quadros floridos e fingir que está tudo bem"

Eu própria, não diria melhor!

PerleKes disse...

Peço desculpa às pessoas em cima por colocar um comentário curto e sem valor nenhum , mas cá vai:

Isto é pra criticar o abuso de clarify aqui do je n é? :p

Sofia...carrega no enter 2x pelo amor da santa..e dos meus olhos!

Rendeiro disse...

Estás careca de saber que acho o clarify algo abusivo :P

Na realidade as tuas memórias do pôr-do-sol deviam ter má exposição e baixo contraste! Mas não, auto-levels, high contrast, clarify: xaran! :P