domingo, 20 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Endividamento

Todos sabemos que os portugueses são consumistas, não têm mão nas finanças, e que o endividamento é assunto grave.

Todos menos pelos vistos o jornalista que escreveu uma peça idiota no Jornal i (http://www.ionline.pt/conteudo/21596-quer-comprar-carro-hipoteque-casa) em que advoga que para comprar carro existem excelentes empréstimos para o consumidor já endividado contrair, nomeadamente fazer hipoteca da casa para comprar carro.

Opção absurda, quem é que no seu perfeito juízo arrisca um imóvel por um veículo? Também propõe no mesmo texto a opção de alargar o financiamento da casa para pagar o carro, o que confessa só resultar se for delineado um plano de amortizações: meu caro, se os portugueses conseguissem poupar e planear, não tentavam comprar um bem que desvaloriza (um carro) através de empréstimos mas sim a pronto após acumular (e aplicar claro) rendimentos.

Por fim, sugere dar como garantia um PPR para comprar um carro. É mesmo isso, invés de sacríficios e andar de transportes públicos e poupar dinheiro, dê como garantia as suas poupanças para a reforma / velhice para poder adquirir um automóvel com um motor mais potente... Idiotice

Não fazem falta conselhos destes, o que faz falta é mais juízinho e pés no chão: Quem não tem dinheiro nao tem vícios!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Radical

Num slide a preto, sobre reengenharia e mudança organizacional:
Lest we forget at least an over-the-shoulder acknowledgement to the very first radical:
from all our legends, mythology and history, the very first radical known to man who rebelled against the establishment and did so effectively that he at least won his own kingdom. Lucifer.
in Rules for Radicals by Alinsky, Saul D.

Economia, Liberalismo, e outras coisas.

Prémio Nobel em Economia, Professor Stiglitz, antigo presidente do concelho de conselheiros económicos da Casa Branca, afirmou em entrevista ao The Daily Telegraph que a Grã-Bretanha devia deixar os bancos incorrer as perdas das suas operações no estrangeiro com os famosos derivados ou activos tóxicos e recomeçar de novo com o subconjunto dos bancos saudáveis que sobrevivam à lei da evolução do mais apto.

A ideia não é nova: deixem os que não têm solvência abrir falência. A Mão Invísivel do mercado não é uma metáfora tão bela quando se pensa nela a esganar a garganta dos banqueiros irresponsáveis? É que não vale a pena injectar mais dinheiro para a sobrevivência das organizações quando se sabe que são esbanjados em bónus para os mesmos executivos que não souberam gerir os riscos que lhes caíram agora em cima.

Porque é que o capitalismo selvagem só serve para crescer e alavancar valores virtuais, e quando a coisa desce ao real e se transforma o risco em perda efectiva, se ataca no bolso do contribuinte? Socialismo na perda, capitalismo no ganho? Assim não...

A notícia é oportuna agora que na UE se preparam recomendações aos países membros para a criação de bad banks públicos que assimilem os produtos derivados tóxicos em circulação, assumindo os contribuintes o risco dos mesmos.

Human

Estes rapazes estão no meu top dos tops: The Killers. Depois do fantástico All The Things That I Have Done com o verso de refrão I've got Soul but I'm not a Soldier que patrocinou na minha memória os olímpicos 2008, os assassinos atacam de novo os tops da pop com Human.


Human - The Killers

As letras são em geral abertas à interpretação e semi-crípticas (não ultrapassam a Yellow Ledbetter mas pronto), em particular o verso: Are we Human or are we Dancer? Não, não é denser nem é plural é mesmo dancer. A palavra não tem múltiplos significados na língua inglesa nem noutras línguas (que eu saiba e que seja relevante).

Brandon Flowers, vocalista e teclista da banda clarificou o mistério numa entrevista. O verso é uma referência a uma sátira mordaz do jornalista Hunter S. Thompson, conhecido pela sua língua afiada. Thompson comentou que a America de hoje procria e educa uma geração de dançarinos. Entende-se aqui dançarinos como indivíduos desprovidos da sua individualidade que seguem a coreografia que lhes é ditada, que temem sair do tempo, que marcham. Indíviduos incapazes de procurarem o seu próprio ritmo e de pensarem por si próprios. Não-indíviduos que não aprenderam a lição do Professor Keating.

Keating: "(...) you must trust that your beliefs are unique, your own, even though others may think them odd or unpopular, even though the herd may go, "That's baaaaad." (...) I want you to find your own walk right now. Your own way of striding, pacing. Any direction. Anything you want. (...) Gentlmen, the courtyard is yours."
Keating: "You Don't have to perform. Just make it for yourself. Mr. Dalton? You be joining us?"
Charlie: "Exercising the right not to walk."
Keating: "Thank you, Mr. Dalton. You just illustrated the point. Swim against the stream."

A letra de Human reflecte essa dificuldade: "Some times I get nervous when I see an open door." A incapacidade de lidar com a oportunidade. A ironia criada naquela que se proclama como a terra onde tudo é possível, a terra das oportunidades e dos sonhos.

Thompson que sofria de dores crónicas suicidou-se em 20 Fevereiro de 2005 com um tiro na cabeça. Deixou um bilhete intitulado "Football Season Is Over" mais tarde publicado na revista Rolling Stone:
"No More Games. No More Bombs. No More Walking. No More Fun. No More Swimming. 67. That is 17 years past 50. 17 more than I needed or wanted. Boring. I am always bitchy. No Fun — for anybody. 67. You are getting Greedy. Act your old age. Relax — This won't hurt."

O seu amigo Ralph Steadman comentou a propósito do trágico desfecho:
"(...) He told me 25 years ago that he would feel real trapped if he didn't know that he could commit suicide at any moment. I don't know if that is brave or stupid or what, but it was inevitable."

Talvez a música dos The Killers seja dedicada ao último acto de humanidade de Thompson.
Close your eyes clear your heart, cut the cord
(...)
Pay my respects to grace and virture, send my condolences to good
Give my regards to soul and romance, they always did the best they could
And so long to devotion you taught me everything I know
Wave good bye wish me well, you've gotta let me go

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vai Nu.

Em casa milhões o sabiam há muito tempo mas foi preciso um estrangeiro descalçar os sapatos para sublinhar o óbvio: o rei vai nu.

Chamou-lhe cão e atirou-lhe os sapatos.
Perdoem-lhe os caninos.

Foi indecente, imprudente e rude. Mas também foi bravo senão mesmo corajoso e mais importante: o seu acto infame de arremessar o calçado foi carregado de verdade.

Tornou-se da noite para o dia, e só por um dia, um símbolo da revolta calada que se expressa num grito.

Dizem as notícias que os árabes em geral sentem desconforto com o comportamento do jornalista descalço. Que mesmo aos inimigos, não se trata assim, que não foi cortês. Que semelhante episódio não pertence ali, é coisa de acontecer só pelas Américas. Que enfim... parece mal.

Desculpem-me as excelências a frontalidade deste vosso europeu, mas para mim faltam mais sapatos arremessados aos que fazem pouco dos outros. Olhando para o nosso cantinho à beira mar plantado, falta no meu sapateiro calçado suficiente que chegasse para assapatar a matilha que para aí anda: banqueiros corruptos e fiscais incompetentes, pedófilos em julgamento, políticos inertes e ministros autistas, jornalistas incompetentes e inconscientes (ou não, que só agrava a sua culpa) da desinformação que provocam ou permitem, jornalistas inertes, jornalistas que só falam na maddie, jornalistas marionetes que só falam no que lhes dizem que falem, e por mencionar deixo outros quantos ilustres.

Havia de ser bonito... Ficava o país descalço.