terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vai Nu.

Em casa milhões o sabiam há muito tempo mas foi preciso um estrangeiro descalçar os sapatos para sublinhar o óbvio: o rei vai nu.

Chamou-lhe cão e atirou-lhe os sapatos.
Perdoem-lhe os caninos.

Foi indecente, imprudente e rude. Mas também foi bravo senão mesmo corajoso e mais importante: o seu acto infame de arremessar o calçado foi carregado de verdade.

Tornou-se da noite para o dia, e só por um dia, um símbolo da revolta calada que se expressa num grito.

Dizem as notícias que os árabes em geral sentem desconforto com o comportamento do jornalista descalço. Que mesmo aos inimigos, não se trata assim, que não foi cortês. Que semelhante episódio não pertence ali, é coisa de acontecer só pelas Américas. Que enfim... parece mal.

Desculpem-me as excelências a frontalidade deste vosso europeu, mas para mim faltam mais sapatos arremessados aos que fazem pouco dos outros. Olhando para o nosso cantinho à beira mar plantado, falta no meu sapateiro calçado suficiente que chegasse para assapatar a matilha que para aí anda: banqueiros corruptos e fiscais incompetentes, pedófilos em julgamento, políticos inertes e ministros autistas, jornalistas incompetentes e inconscientes (ou não, que só agrava a sua culpa) da desinformação que provocam ou permitem, jornalistas inertes, jornalistas que só falam na maddie, jornalistas marionetes que só falam no que lhes dizem que falem, e por mencionar deixo outros quantos ilustres.

Havia de ser bonito... Ficava o país descalço.